Um fato bastante conhecido é que a exposição à radiação UVB leva a danos diretos no DNA e isso contribui para efeitos carcinogênicos. Posteriormente, constatou-se que maiores comprimentos de onda da luz UVA também apresentam efeitos carcinogênicos indiretamente pela produção de fotosensibilizada de espécies reativas de oxigênio (EROs). Atualmente há indícios cada vez mais fortes de que a luz visível, principalmente a azul/violeta, pode ser igualmente danosa prejudicando a pele e também a via de produção de EROs (Nakashima et al., 2017).
A luz visível é composta por comprimentos de ondas que variam de 400 a 700 nm e podem ser classificadas em cores associadas a cada frequência de seu espectro, nas quais as mais curtas se propagam na coloração violeta e aumentam continuadamente através da coloração azul, verde, amarelo, alaranjado e, por fim, vermelho. Sabe-se que quanto menor o comprimento das ondas, maior sua intensidade e seu potencial energético, dessa maneira, a luz azul é considerada como luz visível de alta energia, uma vez que possui comprimentos de ondas próximo a 434 nm.
Figura 1. Quanto maior o comprimento de onde, maior será a penetração da luz na pele.
Além da exposição de luz azul emitida naturalmente pelo Sol, estamos cada vez mais expostos por fontes artificiais de iluminação e eletrodomésticos com tecnologia LED, como, smartphones e tablets, monitores dos computadores e até mesmo as TV’s de tela plana, e que estão sendo cada vez mais utilizada devido ao seu baixo consumo de energia, melhor durabilidade, essas luzes contém uma luz muito mais prejudicial que a luz gerada pelas lâmpadas incandescentes. De acordo com estudos, essa luz está relacionada a diversas patologias, como melasma, envelhecimento cutâneo precoce, câncer de pele, eritema, fotodermatoses, geração de radicais livres e indução de danos ao DNA por processos indiretos.
Principais Efeitos da Luz Azul Sobre a Pele
Já foi comprovado que a luz visível promove pigmentação cutânea mais intensa que a radiação UVA.
O objetivo de um estudo conduzido por Mahmoud . (2010) foi determinar os efeitos da exposição à luz visível (400 a 700 nm) sobre as pigmentações imediata e tardia da pele melanocompetente (fototipos IV a IV), sendo que os resultados obtidos foram comparados àqueles oriundos da exposição à radiação UVA (340 a 400 nm).
Os resultados demonstraram que, embora ambos os tipos de radiação sejam capazes de estimular a melanogênese, a luz visível promoveu uma hiperpigmentação mais intensa e proeminente, com maior tempo de duração.
O espectro que compreende a luz visível é bastante extenso e é hipotetizado que os comprimentos de onda entre 400 e 700 nm não exerçam os mesmos efeitos fotobiológicos sobre a pigmentação. Duteil . (2014) avaliaram os efeitos pró-pigmentantes de dois comprimentos de onda localizados nas extremidades do espectro da luz visível: a luz azul (λ = 415 nm) e a luz vermelha (λ = 630 nm). Foram realizadas avaliações colorimétricas, clínicas e histológicas com doses crescentes dessas luzes em voluntários saudáveis. Em seguida, esses resultados foram comparados com a pele exposta à radiação UVB e com a pele não exposta.
As análises colorimétricas demonstraram que os efeitos decorrentes da exposição à luz com comprimento de onda de 415 nm são dependentes da dose, em indivíduos com fototipos cutâneos III e IV, enquanto o comprimento de onda de 630 nm não promoveu hiperpigmentações.
Em comparação com a radiação UVB, a luz azul (415 nm) induziu uma hiperpigmentação mais pronunciada, sendo que esta apresentou duração de 3 meses.
Chiarelli-Neto et al. (2014) demonstraram que a exposição à luz visível é capaz de gerar danos aos melanócitos, através de uma fotossensibilização da melanina e geração de radicais oxigênio singleto, reduzindo, assim, a viabilidade celular, aumentando a permeabilidade da membrana e gerando foto-oxidação do DNA.
Redução de carotenoides e luz
Vandersee et al. (2015) utilizaram uma fonte simuladora de luz azul/violeta para avaliar seus efeitos e sua potencial influência sobre o status antioxidante da pele humana. Para isso, após exposição à radiação, foi mensurada a concentração de carotenoides em voluntários saudáveis através de espetroscopia Raman.
A degradação de carotenoides mostrou ser dose-dependente , sendo que esta foi estimada em 13,5% após exposição à luz visível na dose de 50 J/cm² e de 21,2% na dose de 100 J/cm².
A degradação de carotenoides cutâneos demonstra indiretamente a quantidade de radicais livres gerados, especificamente as espécies reativas de oxigênio. Todos os voluntários apresentaram redução da concentração de carotenoides cutâneos, de maneira similar à causada pela exposição às radiações ultravioleta e infravermelha, levando à conclusão que a exposição à luz visível exerce efeitos deletérios sobre a pele.
Espero ter colaborado para o Conhecimento de todos os Colegas da Cosmetologia.
Abraços
Referências Bibliográficas
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