A coceira é uma condição que incomoda as pessoas e impacta na qualidade de vida. A coceira crônica é aquela que dura mais de 6 semanas e está sempre acompanhada de alterações cutâneas como xerose, dermatite atópica ou disfunções no fígado ou rim.
Sabemos que a histamina liberada é uma das principais causas da coceira, porém os anti-estamínicos nem sempre funcionam. Não adianta utilizarmos essa classe de medicamentos se não reparamos uma condição mais importante, a função barreira da pele. Essa função barreira pode ser danificada por inúmeros fatores e posso citar alguns, como poluentes, temperatura, umidade e fatores genéticos como alteração na expressão da filagrina.
Mais coceira significa mais pele lesada
Aqui fica muito fácil de entendermos. A pele está com a barreira comprometida e ao sentirmos coceira, o simples ato de coçar, dependendo da intensidade, gera mais lesão levando a uma piora no quadro clínico. Resultado, a pele que já estava danificada fica mais machucada e a inflamação potencial pode piorar ainda mais o quadro.
Quanto mais envelhecemos maior o risco de xerose
A idade é um fator que contribui para sentirmos mais coceira. A xerose é uma disfunção que afeta cerca de 50% da população acima dos 65 anos de idade. Na pele do idoso, essa doença está relacionada com as alterações dos lipídeos da epiderme, variação do pH, alteração nas proteases e nas glândulas sudoríparas.
Veja neste outro post opções específicas para peles dos idosos.
Doenças inflamatórias, dano de barreira e coceira
Doenças como psoríase e dermatites atópicas são comumente relacionadas com dano de barreira e podem levar a hiperestesia, onde a sensação de coceira tem uma intensidade aumentada, muito mais sensível e que geralmente provoca dor. Muitas citoquinas inflamatórias estão envolvidas nessas disfunções. Em pacientes com diabetes tipo I e II também é comum. A ansiedade também tem correlação com quadros onde a coceira é intensa
Como ocorre o estímulo que dá início a ceceira?
Legenda: A percepção da coceira começa quando os sinalizadores endógenos (proteases) e exógenos (fatores ambientais) ativam seus respectivos receptores. Sinais elétricos gerados nas terminações nervosas periféricas são transmitidos ao córtex no cérebro através da medula espinhal, resultando no reconhecimento de coceira. (
A) Na pele saudável, existe uma proteína denominada semaphorin-3A (Sema3A), que inibe e repele as inervações. Mantém as fibras nervosas cutâneas sob a junção dermo-epidérmica, evitando a sinalização da coceira.
(B) Durante os estímulos ambientais em condições agudas da pele seca, o fator de crescimento nervoso (NGF), um fator de alongamento epidérmico do nervo é proeminente e induz o alongamento das fibras nervosas cutâneas na epiderme e também promove a produção de metaloproteinase da matriz (MMP) -2 e MMP-8 nas fibras nervosas sensoriais, o que leva à penetração das fibras nervosas na membrana basal e seu crescimento. Emolientes e fosfolipídios são eficazes para aliviar a sintomas nesta fase.
(C) Na pele seca crônica que acompanha o ciclo de coceira-arranhão, como em doenças cutâneas sistêmicas ou inflamatórias, mais fibras nervosas penetram na epiderme, aumentando a sensação de coceira.
Opções de Tratamentos
Emolientes: não é novidade que os emolientes melhoram a coceira através da restauração da barreira cutânea e redução da perda de água transepidermal, portanto podemos continuar usando esses recursos. Glicerina, óleos vegetais, manteigas e ácido hialurônico são as melhores opções.
Mentol: estudo publicado demonstrou que mentol pode ser usado de 1 a 3% na redução da sensação de coceira.
SymCalmin
É usado como um anti-irritante / anti-coceira com propriedades anti-histamínicas. As avenantramidas são os componentes ativos da aveia, responsáveis por suas propriedades anti-inflamatórias / anti-coceira.
Sensityl
Extrato natural derivado da classe dominante de fitoplâncton marinho, diatomáceas, essas microalgas são encontradas em águas marinhas costeiras ou salobras em zonas temperadas.
Espero que essas informações possam ajudar os Profissionais da Saúde a selecionarem tratamentos adequados.
Abraços!
Lucas Portilho