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O Paradoxo da pele: A inacreditável habilidade da pele em se renovar e ainda ser um órgão resistente

Atualizado: 4 de jan. de 2023

Por Lucas Portilho


Estava atualizando minha aula de anatomofisiologia da pele quando me deu estalo de lucidez misturado com perplexidade frente ao que eu estava vendo.

Centenas de slides descrevendo o famoso “turnover” ou renovação celular da epiderme e a função da pele como um órgão protetor.

O básico todos nós sabemos, que a pele nos protege das agressões externas, que não são nem um pouco inofensivas. Radiação ionizante capaz de matar um ser humano, poluentes criados pelo homem com capacidade de destruir a homeostase cutânea, seres microscópicos que invadem nossa pele levando a processos inflamatórios são alguns dos inimigos da pele.

Mas o que me deixou espantado, foi que apesar de ser um órgão extremamente resistente e resiliente, ele tem vida própria. Consegue se mover de baixo para cima, garantindo um exército de células que se replicam e ainda por cima sabem exatamente quando devem morrer pra nos proteger.


A complexidade da diferenciação


O famoso turnover... fácil de entender, a célula sai da camada basal, vai se diferenciando até descamar, mas ao olharmos mais de perto, vemos centenas de integrinas, desmossomas, e-caderinas, filamentos de queratina, actina, miosina, microtúbulos, receptores de membrana como PAR-3, EGFR e tudo isso interligado através de proteínas não menos importantes como plectina, BPAG1, talina, kindilina, migfilina, vinculina, paxillin e tantas outras.

Se você nunca ouviu falar sobre esses nomes acima, saiba que qualquer alteração nesses marcadores, teremos problemas de hiperqueratinização ou defeito na barreira cutânea.

A divisão


As células que se dividem, ou seja, fazem mitose são aquelas que estão na camada basal. São chamadas de células tronco (stem cells). Elas podem dar origem a duas novas stem cells ou podem dar origem a uma stem cell e outra célula sem ou baixa capacidade de realizar mitose. Damos o nome dessa última de célula amplificadora transitória, que será uma célula que vai parar de se dividir, mas tem uma missão tão importante quanto, ela vai começar o processo de diferenciação, ou seja, vai migrando da camada basal, passando pela camada espinhosa, depois pela granulosa, onde vai liberar copos lamelares, importantes para prover as ceramidas, ácidos graxos e colesterol que nossa epiderme necessita para evitar a perda excessiva de água. Finalmente morre quando chega na camada córnea, onde vai servir de escudo. Toda essa jornada dura 28-50 dias até que seu ciclo chegue o fim e ela se desprenda, tendo servido bravamente como queratinócito.


Improvisação


Na camada basal, as queratinas mais expressas são a K5 e K14, nas camadas supra basais as queratinas mais expressas são a K1 e K10. Onde precisamos de mais proteção, como as palmas das mãos e plantas dos pés a queratina mais expressa é a K9, para prover uma camada mais rígida, chamada de lúcida.

E quando ocorre um dano na pele? Então temos mais uma maravilha acontecendo. Uma rápida adaptação onde novas proteínas são sintetizadas, como as queratinas K6, K16 e K17, são bastante expressas nas células da camada basal em casos de feridas.


Dinâmico e ao mesmo tempo protetor


Pense em construir um muro. Simples, correto?

Agora faça os tijolos que estão na base do muro começarem a subir de forma orgânica. Impossível, eu sei, mas na pele é basicamente isso que acontece. uma biologia perfeita de reposição de células, um sistema dinâmico, microscopicamente em movimento, mas ao mesmo tempo, dando a proteção que precisamos.


Continuo estudando, pele, produtos, ativos e ligando as pontas. Espero um dia entender como tudo isso foi elaborado, porque o engenheiro por trás de tudo isso teve habilidades que vão além da nossa compreensão.

E olha que nem falei nada sobre a derme... mas deixa essa pra outro artigo.

Abraços!

Lucas Portilho

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