Já está bem descrito na literatura o papel do manto ácido do estrato córneo da nossa pele para garantir a atividade antimicrobiana inata da pele e vários bioprocessos como descamação e síntese lipídica.
O pH típico de uma pele saudável fica em torno de 4,0 – 6,0, mas pode variar de acordo com a idade, hormônios, etnicidade, região do corpo ou até períodos do dia.
O motivo do pH ser ácido no estrato córneo é em função dos ácidos graxos, aminoácidos, como o ácido urocânico, que fazem parte do manto natural de hidratação e a liberação de prótons através das membranas dos queratinócitos.
Sabemos que em peles com alterações como dermatite atópica ou peles extremamente ressecadas apresentam pH mais elevados. O mesmo em peles envelhecidas, o pH fica mais alto.
Lavamos nossa pele praticamente todos os dias e utilizamos produtos desengordurantes que contém surfactantes (sistemas detergentes) que possuem valores bem variados de pH. Na minha vida de formulador já fiz sistemas de limpeza com pH que variam de 2,7 até 7,5.
No entanto, devemos considerar que além do pH, os produtos que limpam nossa pele são formulados com diferentes matérias-primas detergentes e cada uma delas pode atuar de forma diferente, até danificando nossa camada córnea. E esse dano não depende do pH do produto, mas sim da composição. Imagine um produto de limpeza que tem pH 4,5, ou seja, compatível com nossa pele, mas ao mesmo tempo tem uma alta concentração de surfactantes agressivos. Isso certamente acarretará um dano na função barreira, levando a maior perda de água e consequente desidratação.
Vejam os conceitos abaixo:
· Ponto isoelétrico da superfície da pele = pH4,0 – cargas igualadas
· Acima do ponto isoelétrico = mais carga negativa (-)
· Abaixo do ponto isoelétrico = mais carga positiva (+)
· Sistemas de limpeza com pH perto da neutralidade contribuirão para um ponto isoelétrico mais alto com mais cargas negativas, deixando pouca interação entre as cargas do surfactante aniônico se ligarem.
· Mas se o ponto isoelétrico é menor teremos mais carga positiva e maior interação entre o surfactante aniônico.
Portanto, quanto menor o pH do produto de limpeza, maior a carga positiva na camada córnea e maior será a interação entre o surfactante aniônico e a pele, levando a uma maior interação, penetração dos surfactantes, maior remoção de lipídeos e consequente maior desidratação.
Quando forem escolher produtos de limpeza, levem em consideração a carga do surfactante, a concentração dos mesmos e o pH final da formulação, que não precisa necessariamente ser compatível com a pele saudável.
Abraços
Lucas Portilho