Existem estratégias e informações bem definidas sobre essa disfunção estética que acomete tanto mulheres quanto homens e incomoda bastante.
1. Nem toda mancha é melasma
Um escurecimento da pele não significa que o paciente tem um melasma. Existem outras hipercromias, como líquen plano pigmentoso ou ocronose e os tratamentos nestes casos são totalmente diferentes quando comparados ao melasma. O líquen plano, por exemplo, é tratado com tacrolimus ou dapsona, ou seja, totalmente diferente do recomendado para melasma. No caso da ocornose, pode ser causada pela hidroquinona, ou seja, um medicamento para melasma pode causar outro hiperpigmentação.
2. A profundidade importa sim
O melasma é uma produção intensa e desregulada de melanina. Quando o pigmento é depositado na epiderme, damos o nome de melasma epidérmico. Mas pode ocorrer deposição da melanina na derme, e neste caso, o nome é melasma dérmico. E ainda pode haver o melasma epidérmico/dérmico ou misto. A melanina que está na epiderme vai sair um dia, pois o turnover celular garante que qualquer célula da epiderme vai descamar depois de aproximadamente 28-40 dias, levando junto a melanina depositada, mas no caso de melasma dérmico isso não acontece, tornando o tratamento muito, mas muito mais complicado.
3. O sol, inflamação e hormônios, os maiores inimigos
O melasma vai surgir em função dos fatores citados acima. Por isso na gestação existe uma probabilidade maior de aparecimento dessa disfunção. Em relação ao sol, a radiação UVA é a principal vilã, pois vai estimular a formação de espécies reativas de oxigênio, que por sua vez estimularão os melanócitos. A radiação UVB também é um fator de grande influência, pois vai gerar inflamação na pele consequentemente teremos o estímulo dos melanócitos. Além disso, temos um papel já definido da luz visível no estímulo da formação de melanina.
4. Inibição dos gatilhos da melanogênese ajudam no tratamento
Inibir o início da cascata de formação da melanina não começa no melanócito, mas bem antes disso. A barreira primária é o protetor solar, mas sabemos que um protetor, mesmo com FPS e proteção UVA altos, sempre permitirão a passagem de raios ultravioleta, portanto o gatilho para avisar o melanócito que ele deve produzir melanina vai ser dado de qualquer forma. Mas existem etapas que podemos inibir, como a liberação de pró-opiomelanocortina, inibição da formação do hormônio melano estimulante, inibição da liberação de endotelinas, de peptídeos sinalizadores, como stem cell factor ou GM-CSF. A inibição da liberação e ligação desses sinalizadores com a membrana dos melanócitos vai reduzir a sinalização que dispara o gatilho inicial da formação da melanina.
5. Inibição da formação da melanina pode ser feita dentro do melanócito
Uma vez que não conseguiremos impedir a ativação de todos os gatilhos que ativam o melanócitos, pois são muitos, teremos que reduzir a formação pensando dentro do melanócito. Inibir enzimas chave que são responsáveis pela maturação do pigmento (melanina) é fundamental. Inibir tirosinase e outras enzimas relacionadas à tirosinase.
6. Inibição da transferência da melanina
Se falharmos ao evitar os gatilhos e a maturação da melanina, ainda há esperança fazendo a inibição da liberação e transferência do pigmento para os queratinócitos.
Podemos atuar em proteínas transportadoras e através da inibição destas é possível evitar esse processo.
7. O ativo precisa chegar no melanócito
Pra que muitas dessas estratégias funcionem, é necessário garantir que o ativo chegue até a célula alvo. O melanócito está presente na camada basal da epiderme, não é muito profunudo, mas o problema é que muitos ativos despigmentantes são hidrossolúveis, o que dificulta sua permeação através da camada córnea. É necessário ativos carreadores ou sistemas delivery como microagulhamento para ajudar nesses casos.
8. Microagulhamento e melasma
Na minha opinião, o procedimento de microagulhamento vem primeiro do que o peeling e lasers ablativos. O microagulhamento não só auxilia a permeação de ativos, mas também contribui para a liberação do TGF-B (transforming grow factor), que inibe a melanogênese. Além disso, o processo inflamatório, que vimos que é um fator chave para desencadear a formação do pigmento, é menor no microagulhamento quando comparado com peelings e laserterapias.
9. Tratamento oral não é a solução, mas ajuda
O uso de ativos de uso oral não é chave para o sucesso do tratamento do melasma, mas novas evidências mostram que ajudam sim na inibição de espécies reativas de oxigênio e ainda fortalecem nossa proteção antioxidante natural. Portanto, sempre que possível recomendo o uso deles.
10. Proteção total na quantidade correta
De nada vai adiantar todas as estratégias citadas acima se o paciente não usar a quantidade correta de protetor solar, ou seja, dentro da pele estaremos usando todas as ferramentas possíveis para atuar na inibição da ativação do melanócito, na inibição da maturação da melanina, na transferência, mas de nada adiantará se as radiações UVA, UVB e a luz visível continuar a estimular a melanogênese, é uma batalha perdida. Mas se a quantidade de protetor for aplicada corretamente, e neste caso recomendo fortemente que leiam minha pesquisa feita sobre o tema. Comprovei através de estudos que foram publicados no British Journal of Dermatology que o tipo de protetor solar faz total diferença na proteção do paciente.
Portanto, esses são os 1º0 mandamentos ou verdades sobre o melasma baseados em evidências científicas que temos hoje.
Lembrando que esse artigo é voltado para Profissionais da Saúde, se você está lendo e não é, procure um habilitado e capacitado para te ajudar.
Abraços
Lucas Portilho
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